VIDA E INSPIRAÇÃO

(Sergio Lopes, 09/out/2010)

Era como um rio, cujas águas volumosas
Como multidão incontrolável de gotas que se ajuntam
Para conquistar, à força da bélica passagem
Uma porção própria da terra de onde minaram
Numa posse violenta e conturbada...
Na passagem, arrastava tudo o que encontrava!
Árvores imensas tombavam! Troncos imensos
Arrancados da terra pela força dos raios
Eram empurrados pela força turbulenta da torrente;
Brotos de bambu agonizavam, pequenas flores sumiam...
Uma confusão tormentosa na natureza!
Em um minuto muita coisa não mais existia
Tal era a força e o volume da enxurrada em fúria.
Os castores se assustavam! Nunca viram nada igual!
Os diques se rompiam como numa explosão!
Quanta vida era tragada pela força daquelas águas!
Era uma cena aterradora! Parecia o fim do mundo!
Com todo o barulho invasor da calmaria selvagem
As águas imparáveis e impiedosas do rio em tromba
Vinham descendo a montanha ladeira abaixo
Numa desastrada corrida destrutiva,
Matando tudo, esmagando tudo, quebrando tudo!
Desafiando e vencendo tudo que ficasse parado na sua frente!
Lá embaixo, a planície tudo assistia...
Olhando... olhando... olhando aquela loucura toda,
Mas como quem olha pra rua esperando o carteiro
Trazendo uma carta muito aguardada!
Cá embaixo, onde já existiu uma bela flora,
E um pasto suculento,
Que agonizavam por falta daquela água toda.
Então se aproximava a esperança!
Meio sem jeito, desengonçada, desgovernada, mas...
Lá vinha a tromba d’água! E vinha com vontade!
E quando finalmente chega à baixada... diminui sua marcha
E aquele aguaceiro se espalha pela planície inteira
Perdendo sua força destruidora porque, no plano,
Onde não há o desespero de uma descida sem freio
Não teve outra forma de se comportar
Senão o espalhar-se, esvair-se, acalmar-se, minguar!
E agora toda aquela água é tragada pela terra sedenta!
E então, dias depois, tudo ali reverdece...
A terra distribuiu, do jeito que bem quis,
Para os lírios e a relva
Com delicadeza, em pequenas porções,
Toda aquela água antes desembestada e sem dono!
Os passarinhos agora cantam sobrevoando a planície!
Refazem seus ninhos; repõem seus ovos.
Os animais do pasto descansam e as crias brincam
Sobre a relva saciada com água delicadamente distribuída.
Um misto de cores belíssimas, impossíveis de se imitar...
Pintam o campo de grená, amarelo e púrpura
Azuis e vermelhos, belíssimas aquarelas!
Um incrível mundo que, de tão perfeito,
Nem combina com toda aquela destruição que o antecedeu...
Mas... assim é a vida... e assim é a inspiração...
A vida é aquele rio caudaloso! destrutivo! impiedoso!
Que atropela com vigor e fúria as vontades dos humanos.
Destrói seus sonhos, explode as construções dos seus desejos,
Para depois, fazer-se espalhar em sua alma, minguando-se,
Acalmando-se na planície de uma folha de papel
Por meio dos rabiscos de um poema, ou
Por meio de uma canção inspirada, calma,
Mas também cheia de cores vivas
Que ninguém jamais conseguirá imitar.

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